Primeira Leitura: Actos 10,34a.37-43 Salmo Responsorial: Salmo 117,1-2.16-17.22-23; Segunda Leitura: Colossenses 3,1-4 ou 1 Coríntios 5,6b-8; Evangelho: João 20:1-9

A Reflexão do Domingo de Páscoa é do Pe. José Minaku, SJ
Presidente, Conferência Jesuíta de África e Madagáscar (JCAM)
Meus queridos amigos,
Na Páscoa, acende as velas que o ajudam a abrir os olhos e a olhar em redor quando a estação seca termina. Verá que a natureza compreende algo sobre a Páscoa. Terra rachada volta a ficar verde. Árvores, antes secas e paradas, começam a brotar. Os patos adquirem penas novas depois do inverno. As cobras mudam de pele para crescer. A criação parece experimentar a morte… apenas para regressar mais forte e renovada. Este é o dom da ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo!
Mas e nós?
Não desenvolvemos pele nova como as cobras. Nós não germinamos folhas. E, no entanto, Deus deu-nos algo ainda maior: o poder de sermos transformados de dentro para fora. O que a natureza mostra exteriormente, podemos viver profundamente no nosso coração. É disso que se trata a Páscoa.
A Páscoa é a vitória da vida sobre a morte — não apenas a vida física, mas aquela força profunda e silenciosa de Deus que traz as coisas de volta à vida: esperanças, sonhos, amor, alegria. A Páscoa é a luz a romper a noite, e essa luz é Jesus Ressuscitado. De facto, o nosso mundo de hoje parece uma longa noite de guerra, injustiça, solidão, medo e relações quebradas. É fácil sentir-se preso. Mas a Páscoa diz-nos que a vida encontra um caminho — não em alto e bom som, nem com fogo de artifício, mas como uma pequena semente a romper o solo, ou como uma chama que continua a arder mesmo quando o vento sopra. Na manhã de Páscoa, o Evangelho diz que Maria Madalena foi ao sepulcro “quando ainda estava escuro” (João 20,1). Ela não esperou pela luz; atravessou a escuridão e, nesse lugar de tristeza, encontrou a vida. Ouviu Jesus chamá-la pelo nome, e hoje, Ele chama seu nome também, na esperança de que a sua voz familiar agite o seu coração, ilumine os seus olhos e acenda a sua esperança por uma nova vida, um novo começo.
Então o que pode fazer?
Seja alguém que protege a vida. Procure vida, nem que seja só um bocadinho, no seu coração, nos outros e no mundo. Quando a encontrar, proteja-a como faria com uma planta delicada. Alimente-o. Deixe crescer. Partilhe. Quando perdoa, fala a verdade, diz não ao ódio e ajuda alguém, torna-se uma testemunha da Ressurreição de Jesus, uma testemunha da esperança. Não é demasiado jovem para trazer esperança. Na verdade, o mundo precisa de jovens como você — não perfeitos, mas cheios de esperança persistente. Porque sim, “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a venceram.” (João 1:5)
Um dia, visitei um campo para deslocados num país africano. Um convidado da Europa acompanhou-me. O que vimos foi de partir o coração: a miséria na sua forma mais brutal. O desespero tinha um rosto e olhava-nos diretamente nos olhos. De repente, o meu convidado agarrou-me o braço com força. Ficou parado, paralisado pelo que estava a testemunhar. Veja bem, assistir a uma tragédia no ecrã da televisão ou passar por ela online é uma coisa. Outra coisa é estar lá para sentir isso na própria carne. Para respirar o fedor que arde nos olhos até as lágrimas caírem. Estar envolto em ar quente e pesado, cheio de fumo, que se cola às suas roupas e lhe perfura a pele. Por um momento, o meu convidado sussurrou que achava que tinha entrado no inferno. E, no entanto — permanecendo ali e conversando com os nossos irmãos e irmãs, algo se tornou lentamente claro: nada pode parar a vida. A vida arranja sempre maneira: as crianças, descalças e cobertas de pó, ainda sabiam rir — um riso profundo e alegre, nascido de quase nada. Uma mãe mexia as papas no fogo com uma ternura que as palavras não conseguem descrever. Ofereceram-nos o melhor cepo de árvore para nos sentarmos, como se fosse um trono. Havia tanta humanidade neles. Tanta dignidade. Tanta esperança. E nesse lugar de cinzas e lágrimas, experimentei algo mais profundo do que alguma vez esperara: Experimentei a Páscoa: um encontro com o Senhor Ressuscitado nos pobres.
Não numa igreja ou num cântico, mas no triunfo da vida sobre a morte, nos pequenos milagres de amor e resiliência que ainda florescem no solo mais duro.
Por isso, nesta Páscoa, não hesite em mudar, em crescer, em começar de novo. Deixe que Cristo Ressuscitado reviva tudo o que estava perdido dentro de si. Por isso, vá — mostre ao mundo que a vida é mais forte do que a morte.
Cristo ressuscitou! Ele ressuscitou mesmo!
Feliz Páscoa!
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