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A Ponte Intergeracional: Uma História de Compreensão, Crescimento e Sustentabilidade no Alfajiri College, RDC

No coração de um movimentado auditório académico no Alfajiri College em Bukavu, República Democrática do Congo (RDC), uma multidão de jovens, educadores e idosos ansiosos reuniu-se para uma conferência crucial intitulada: "O conflito intergeracional: compreender os jovens de hoje e as suas características únicas — como aproveitar as suas contribuições sem trair os valores sociais". O evento reuniu líderes de pensamento de diversas áreas, cada um transportando uma tocha de perceção para iluminar o caminho partilhado das gerações mais velhas e mais novas.

Entre os principais oradores esteve o Padre Topia, um dedicado defensor do ambiente e guia espiritual. A sua mensagem radicava numa preocupação simples, mas profunda: o futuro de África. Com uma intensidade serena, desafiou o público a reflectir sobre duas questões essenciais: o que deve o africano de hoje fazer para viver uma vida saudável e como proteger as gerações futuras, deixando para trás um continente habitável?

Falou sobre a rica riqueza natural de África; suas florestas, rios, terras férteis, e lamentou a exploração desenfreada que ameaçava este tesouro. Ao contrário das nações industrializadas, onde o sobredesenvolvimento tinha despojado a vida natural da terra, a África possuía ainda aquilo que os outros tinham perdido: equilíbrio e potencial. O Grupo Ecológico, explicou, tinha como objectivo desenvolver soluções para esta sobre-exploração, fundamentadas na sabedoria tradicional e na ética ambiental.

O Padre Topia introduziu a filosofia do biocomunitarismo — uma visão do mundo africana que valoriza todos os seres vivos, e não apenas os humanos. "Devemos passar de um modo de vida antropocêntrico para um cosmocêntrico", insistiu. "Cada árvore, animal e riacho tem valor para além da sua utilidade para o homem. Para vivermos plenamente, devemos viver em harmonia." Defendeu o regresso aos princípios enraizados nos ritmos e ciclos do continente, propondo práticas sustentáveis, como a agrofloresta, a agricultura biológica e a agricultura de conservação. Estas, insistia, não eram apenas estratégias agrícolas, mas atos espirituais — formas de honrar a terra e uns aos outros.

O Padre Topia enfatizou ainda a economia circular, especialmente na gestão de resíduos industriais. Reciclar, disse, não se trata apenas de lixo, mas sim de uma forma de pensar, de reduzir danos e criar valor. "A economia circular deve substituir o modelo linear e perdulário. Este é o nosso dever para com a Terra e uns para com os outros." Citando dados que chocaram a sala, como a reciclagem de uma tonelada de papel poderia poupar 17 árvores e milhares de litros de água, defendeu a sua tese não só com paixão, mas com factos. "A ética ambiental", concluiu, "deve tornar-se parte da nossa cultura se quisermos respirar livremente amanhã".

A conversa passou então da terra para o corpo com o Dr. Mulume, professor da Universidade Católica de Bukavu. Trouxe uma autoridade silenciosa a um tema frequentemente evitado: a educação sexual. "O autodomínio em relação à sexualidade", começou, "é fundamental para o nosso bem-estar mental, físico e intelectual".

O Dr. Mulume desafiou o tabu que rodeia o sexo nas culturas africanas. "Quando deixamos os jovens na ignorância, expomo-los a danos", alertou. Descreveu a educação sexual abrangente como um direito humano, oferecendo aos jovens as ferramentas para tomarem decisões informadas, respeitosas e responsáveis ​​sobre os seus corpos e relacionamentos. Delineou os pilares da educação sexual — conhecimento, respeito, empatia e autonomia. Não se tratava de incentivar a atividade sexual precoce, mas sim de equipar os jovens para proteger a sua saúde, compreender o consentimento, prevenir abusos e formar relações saudáveis. Salientou que a educação sexual deve ser adequada à idade, culturalmente sensível e ensinada em ambientes seguros por educadores com formação, com o envolvimento dos pais. "Devemos eliminar a vergonha", disse, "e substituí-la pela compreensão".

De seguida, a palavra foi dada ao Professor Jimmy Bulonza e ao Engenheiro Franck, que abordaram a evolução do papel da tecnologia digital na educação. Pintaram um panorama matizado da revolução digital — repleto de promessas e perigos. Começou por destacar as suas vantagens: melhoria da qualidade do ensino, experiências de aprendizagem diversificadas e acesso mais rápido à informação. "Um aluno numa aldeia remota pode agora aprender com especialistas globais", observou. "As ferramentas digitais estão a nivelar o campo". Mas foi rápido a reconhecer os desafios: a desinformação, a falta de formação dos professores e a crescente dependência dos alunos em relação aos ecrãs. "Não nos devemos tornar escravos da máquina", alertou. "A tecnologia deve servir a educação, não substituí-la".

O engenheiro Franck falou, de seguida, sobre o empreendedorismo digital como uma nova fronteira para o empoderamento juvenil. Descreveu como os jovens podem transformar a sua criatividade e competências em rendimentos, criando conteúdos, oferecendo formação ou desenvolvendo serviços online. "Com a mentalidade certa", disse, "um telemóvel torna-se mais do que entretenimento — torna-se uma ferramenta de negócio". Salientou a importância da literacia digital, não só para o consumo, mas também para a produção e a inovação. Os jovens, insistiu, não devem apenas fazer scroll no ecrã, mas sim construir. "É assim que redirecionamos a energia das distrações para o propósito."

Ao longo da conferência, emergiu um tema central: a importância do diálogo intergeracional. Cada orador, embora enraizado na sua área, fez eco do mesmo apelo: não dividamos as gerações, mas unamo-las através do respeito mútuo.

Os jovens trazem energia, criatividade e ousadia. Os mais velhos trazem sabedoria, experiência e valores. Um sem o outro é incompleto.

Os objetivos do encontro ficaram cristalizados na mente de todos os presentes:

  • Incentive os jovens a pensar criticamente sobre os modelos atuais e a imaginar alternativas sustentáveis.
  • Inspire o envolvimento da comunidade, onde os jovens se responsabilizam pelos esforços locais de sustentabilidade.
  • Promover o empreendedorismo, especialmente na crescente economia digital.
  • Reformule a educação sexual como uma ferramenta para a saúde e a dignidade, e não para a vergonha.
  • E, acima de tudo, promover o respeito — entre gerações, entre disciplinas e entre identidades.

No final do dia, era possível sentir o despertar coletivo de um propósito partilhado. A conferência não se limitou a apresentar ideias, mas também a semear.

Uma aluna na plateia, com os olhos a brilhar de determinação, resumiu bem a situação durante a sessão de perguntas e respostas: "Não queremos abandonar os nossos valores", disse. "Queremos vivê-los de novas formas. Não somos os seus inimigos. Somos a sua continuação."

Os anciãos sorriram. O futuro, antes temido, falara com coragem.

Por, Pe. Christian Mudiandambu Kangabuka SJ.,

Colégio Alfajiri, Bukavu, República Democrática do Congo.

Pe. Matambura Ismael, SJ

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