No sábado, 22 de março de 2025, o AJAN AHAPPY Club no Alfajiri College em Bukavu, República Democrática do Congo, acolheu com sucesso uma conferência sobre “Sexualidade em África: os seus tabus e consequências – uma perspetiva médica”. O evento reuniu estudantes, convidados, representantes da Web Watchmen, Embaixadores da Paz e a estrutura do U-Reporter. O seu principal objectivo era educar os jovens estudantes sobre sexualidade, com um enfoque específico na sensibilização e prevenção do VIH e da SIDA.

Os tabus funcionam como salvaguardas culturais, estabelecendo limites morais sobre a vida, a sexualidade e a hierarquia. No entanto, o desejo dos jovens de procurar independência e respostas está a criar um conflito geracional. A tecnologia, ao quebrar as barreiras tradicionais, expõe discussões sem filtros sobre sexualidade e identidade. Embora isto abra oportunidades, também levanta preocupações. A conferência abordou estas questões esclarecendo os tabus, a sexualidade e a SIDA, ao mesmo tempo que explorou possíveis soluções.

O Pe. Chisa, padre jesuíta e estudante de medicina na Universidade Católica de Bukavu, foi o primeiro orador do dia. Abordou os tabus sociais e as disparidades na forma como os rapazes e as raparigas são educados sobre sexualidade. Salientou que, enquanto as mães orientam as raparigas sobre higiene pessoal, conduta social e mudanças corporais, os rapazes muitas vezes não têm uma orientação estruturada, deixando-os por sua conta, o que pode levar a conceitos errados e comportamentos prejudiciais.

O Pe. Chisa enfatizou os perigos da educação sexual inadequada, referindo que a ignorância pode contribuir para problemas como a homossexualidade (em alguns contextos), a pedofilia e outros desvios sexuais. Salientou a necessidade de uma educação sexual abrangente para prevenir estes resultados e reduzir riscos como gravidezes indesejadas, abortos e doenças sexualmente transmissíveis.

Abordou ainda a erosão dos valores culturais devido à influência ocidental, relacionando-a com o aumento da hipersexualização na sociedade. Encorajou os jovens a abraçar e manter as suas tradições culturais para preservar a autenticidade da identidade africana. Por fim, defendeu discussões abertas sobre sexualidade, encorajando os jovens a procurar orientação dos pais ou dos adultos responsáveis em vez de confiarem em informações erradas de fontes não fidedignas.

O segundo orador, o Sr. Bienvenu, representante do PNMLS (Programa Nacional Multissetorial de Luta contra a SIDA), apresentou as estatísticas do VIH para o Kivu do Sul em 2023. Desmascarou mitos comuns sobre a SIDA e explicou os vários modos de transmissão, enfatizando os principais fatores de risco.

O Sr. Bienvenu também discutiu a SIDA dentro do quadro do projecto 95-95-95, uma iniciativa global que visa erradicar a doença até 2030. Partilhou estatísticas críticas sobre o VIH para o Kivu do Sul e falou com o público sobre preocupações urgentes. Os jovens participantes levantaram questões instigantes, incluindo as implicações dos relacionamentos românticos e as visões culturais sobre a homossexualidade.

Concluiu incentivando os jovens a manterem-se vigilantes e a utilizarem o conhecimento adquirido na sessão para tomarem decisões informadas sobre a sua saúde.

Arnold, aluno do 4º ano de B.S. Estudante de Humanidades no Alfajiri College partilhou as suas ideias sobre a conferência. Expressou que o tema da palestra era particularmente relevante para si, afirmando: “É a primeira vez que me falaram abertamente sobre um assunto como este sem me sentir envergonhado”. Salientou que tais discussões raramente são abordadas na sua sociedade e que revisitar o tema seria crucial para que os jovens se compreendessem melhor e se tornassem mais responsáveis.

Quando questionado sobre elementos específicos que deveriam ser revisitados, Arnold destacou a propagação do VIH, que observou ainda ser uma preocupação significativa na província. E explicou: “Há muitos casos desconhecidos, com pessoas a espalhar o vírus sem saber”, e realçou que uma discussão mais aprofundada sobre o assunto poderia encorajar os indivíduos a fazerem o teste e a conhecerem o seu estado de saúde.

Refletindo sobre o impacto da conferência, Arnold partilhou: “Sim, esta conferência ajudou-me realmente. Agora sei como o VIH se propaga e como posso evitá-lo. Aprendi muito, incluindo como me proteger se tiver relações sexuais, evitando contrair a doença.”

Arnold demonstrou interesse em aderir ao AJAN AHAPPY Club, dizendo: “Sim, gostaria de aderir porque é um clube instrutivo. Mesmo que não tenha sucesso, poderia encorajar outros a fazerem o teste”. Concluiu manifestando o seu apreço, dizendo:: “É um clube muito bom.”

Igilima mulungula Audrey, aluna do 4º ano do Colégio Alfajiri, partilhou os seus pensamentos sobre a conferência e a sua relevância. Expressou: “Sim, é um tema bastante relevante para nós, jovens, pois estamos a crescer numa sociedade africana onde falar sobre sexualidade é realmente um tabu. Não é algo muito discutido nas nossas famílias, por isso foi um prazer saber que os nossos educadores podem abordá-lo de forma mais aberta.”

Quando questionada sobre quais os temas que deveriam ser introduzidos aos jovens para encorajar a responsabilidade pessoal em relação à SIDA e à sexualidade, Audrey enfatizou a importância da autoconsciência e da compreensão do ambiente. A mesma mencionou ainda a pornografia como um problema crítico que afeta a juventude de hoje, referindo, “De acordo com estudos, as crianças até aos 13 anos têm acesso a sites pornográficos, o que é prejudicial para os jovens e distorce a sua compreensão da sexualidade. Os jovens já não encaram a sexualidade com a importância que tinha antes.”

Refletindo sobre a forma como a conferência o ajudou, Audrey declarou: "Sim, esta conferência realmente educou-me e ajudou-me a conhecer-me. Aprendi sobre a comunidade LGBTQ+, que inclui pessoas bissexuais, lésbicas e transgénero, e foi uma adição valiosa ao meu conhecimento pessoal."

Sobre a adesão ao Clube AJAN, Audrey partilhou: “Sim, penso que num futuro próximo serei membro do Clube AJAN porque ajuda muito os jovens, especialmente no desenvolvimento pessoal, e contribui para criar uma sociedade mais solidária no futuro.” Concluiu com um sincero agradecimento, dizendo: "Muito obrigada".

Falando no final da conferência, o P. Christian Mudiandambu Kangabuka, padre jesuíta e professor no Alfajiri College, partilhou os seus pensamentos sobre o Clube AJAN AHAPPY e o seu impacto na juventude de Bukavu. E explicou: “O clube, que teve origem como parte da Rede Jesuíta Africana de SIDA, aborda várias questões para além da SIDA, incluindo os tabus sociais e a relação que os jovens têm com o dinheiro.” O Pe. Christian observou que muitos jovens não têm uma orientação estruturada, especialmente quando abordam temas difíceis, o que os leva muitas vezes às redes sociais em busca de respostas.

Expressou o seu desejo de que o clube capacitasse os alunos ensinando-lhes “as razões por detrás de certos tabus, ajudando-os a fazer escolhas responsáveis”. Acredita que, ao educar os alunos, o clube pode eventualmente influenciar as famílias, a província e até a nação, embora reconheça o desafio de chegar a toda a população. O Padre Christian enfatizou a importância de incutir novos valores nos jovens para os ajudar a crescer e a atingir o seu potencial. Está otimista quanto ao impacto futuro do clube, dizendo: "Com a orientação certa, os objetivos do clube podem ser alcançados, pois faz parte do processo natural de crescimento pessoal".

Por, Pe. Christian Mudiandambu Kangabuka SJ.,

Colégio Alfajiri, Bukavu, República Democrática do Congo.