Verdadeiro amor, responsabilidade e relacionamento entre Deus, o Criador, e nós
PRIMEIRA LEITURA: Êxodo 20:1-17 Salmo: 18(19):8-11 | Segunda Leitura:1 Coríntios 1:22-25 |
Evangelho: João 2:13-25
A reflexão deste domingo é de
Pe. Jean-Claude Jimmy Bindanda K., SJ.,
Diretora do Centre Maisha, Kisangani, República Democrática do Congo.
Caros irmãos e irmãs,
Paz e alegria em Cristo Jesus!
Após o tempo do Advento, que nos preparou bem para receber o Cristo Menino em nossa situação concreta no dia a dia, a Igreja, nossa mãe, nos oferece um novo tempo forte, o tempo da Quaresma. Este tempo nos prepara para caminhar com Cristo em seu ministério público, para comungar com sua paixão, sua morte e sua ressurreição.
Se no primeiro domingo da Quaresma fomos mergulhados nas águas batismais do dilúvio de Cristo, impulsionados pelo Espírito para enfrentar, na oração, o deserto de nosso próprio coração, o segundo domingo da Quaresma iluminou nossos corações com a luz de Cristo transfigurado. Nessa luz, todo nosso ser e toda a criação são convidados a ser purificados, transfigurados e, portanto, a ressuscitar com Cristo.
Neste terceiro domingo da Quaresma, a sagrada Escritura nos aconselha a não fechar nosso coração, a não sermos livres como elétrons, mas a nos conformarmos com a lei de Deus, a do amor. Jesus não suporta tudo o que vem destruir o amor.
Hoje, em Jerusalém para a festa da Páscoa, Jesus visita lugares simbólicos da fé judaica. Ele entra no Templo e o encontra sendo profanado por comerciantes judeus. "Ele os expulsa todos do Templo". Com isso, Jesus realiza um ato apropriado, declarando a perda de sentido do "sagrado" e lembrando o significado fundamental: "Não façam da casa de meu Pai uma casa de comércio". Há aqui um questionamento sobre como habitar o Templo, ou melhor ainda, sobre a qualidade de todos os relacionamentos com o Corpo de Cristo, com os irmãos, com a natureza.
Hoje, em nossas sociedades globalizadas e digitalizadas em geral, a troca se tornou mercantil, tudo se compra, tudo se vende, tudo passa por todo tipo de negociações, com todo tipo de pactos obscuros que levam a desigualdades sociais, individualismo, violência, injustiça, e até mesmo a desvalorização sem escrúpulos dos relacionamentos e da vida humana. O amor entre próximos, vizinhos e nações passa pelos interesses, de modo que a consistência do próximo se esvazia de seu sentido evangélico. Os casos de abuso de crianças e pessoas vulneráveis, o fenômeno dos órfãos infectados e afetados pelo HIV e AIDS no mundo em geral, e a imagem no leste da República Democrática do Congo da criança que trata de sua mãe morta a golpes de machado e crivada de balas no contexto atual de uma guerra injusta, questionam nossa consciência e nossa responsabilidade como guardiões do Templo ou da criatura humana.
Na continuação da página do Evangelho de hoje, Jesus vai restaurar a possibilidade efetiva do verdadeiro amor, da responsabilidade e do relacionamento entre Deus Criador e nós, suas criaturas, e por meio de nós, toda nossa "casa comum". Por meio de seu corpo oferecido em total renúncia, ele nos dá a vida. Este é o verdadeiro lugar de troca entre Deus e nós. Este corpo pregado na madeira da miséria do mundo nos conduz, pelo amor que se doa e através do mistério pascal, à glória do Pai.
À medida que avançamos para a Páscoa, que possamos, enquanto nos entregamos à força deste Deus Amor que se doa a nós, contemplar a manifestação deste amor gratuito, e perceber a cada momento de nossa vida o quanto pisoteamos os lugares sagrados, o quanto relativizamos e levamos levemente o barco de nossa vida eterna, o quanto barganhamos nossos valores cristãos, o quanto não soubemos amar, e assim, o quanto negamos nossa troca com Deus.
Precisamos de uma verdadeira conversão, de uma total renúncia de nós mesmos, para estarmos prontos para receber e dar apenas o amor de Deus ao nosso redor.
Amém.
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